Diagnósticos e Definições Estratégicas na Gestão Eclesial

Ano 8, n. 46 / Jan e Fev 2014

Ano 8, n. 46 / Jan e Fev 2014

A instituição paróquia, cenário privilegiado do cotidiano das Igrejas Particulares, assumiu uma complexidade que não possuía outrora. Em muitas paróquias do Brasil, os ambientes da secretaria paroquial foram ampliados em centros pastorais e de ação social; funcionários tiveram os seus direitos e deveres reconhecidos, ante a legislação trabalhista; sistemas integrados de gestão passaram a fazer parte do cotidiano; o patrimônio antigo passou a ter um acompanhamento mais técnico, tudo isto, em vista da pastoral e da missão. Esta série de pontos e vírgulas, no texto e na história da paróquia, faz-nos observar que, enquanto a maioria das grandes organizações dividiram as atribuições dos seus funcionários (em cargos operacionais, táticos e estratégicos), esta instituição do terceiro setor permaneceu com as figuras do pároco e da antiga secretária paroquial, como os principais colaboradores. A organização administrativa da paróquia, infelizmente, não acompanhou o seu evolutivo grau de complexidade.

Se as paróquias nasceram de uma preocupação pastoral e missionária (Doc. 104 CNBB, p. 34), as mudanças na sua administração devem acontecer por preocupação semelhante. Já sabemos: toda estrutura administrativa da Igreja existe em função da pastoral, da missão e da comunhão eclesial. “Conhecer a realidade das comunidades paroquiais é determinante para identificar caminhos possíveis para a renovação paroquial e a consequente revitalização das comunidades cristãs” (Doc 104 CNBB, p. 50). Diante da nova complexidade organizacional da paróquia, é preciso adotar uma nova dinâmica institucional.

UM DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO

Toda paróquia existe dentro de um ambiente. O primeiro passo para nova dinâmica institucional é realizar uma análise do ambiente paroquial. O ambiente paroquial deve, aqui, ser entendido como o conjunto de fatores que influenciam e interferem na vida da paróquia, do ponto de vista interno e externo. O próprio documento de estudos da CNBB (104), Comunidades de Comunidades: Uma Nova Paróquia, nos alerta, “em si, a paróquia não é um todo, pois está unida a outras paróquias formando a Igreja Particular, ou a Diocese. Igualmente, a paróquia está inserida na sociedade, recebe e oferece influências” (p. 51). Para obtermos um diagnóstico estratégico é importante distinguir o ambiente paroquial, em macro e microambiente.

O macroambiente paroquial é constituído dos fatores externos à instituição, sobre os quais ela não possui controle. Compõem o ambiente geral os fatores naturais, demográficos, econômicos, culturais, políticos e tecnológicos. Ainda, dentro do ambiente externo, existe um ambiente operacional, sobre os quais a paróquia também não possui domínio: fiéis, voluntários, fornecedores, movimentos, paróquias vizinhas e outras denominações religiosas cristãs e não cristãs. É no macroambiente que estarão concentradas as oportunidades de crescimento e possíveis riscos à vida da paróquia.

O microambiente paroquial, por sua vez, é definido pelos pontos fortes e fracos, sobre os quais a instituição possui certo grau de controle. Compõe o microambiente o relacionamento da paróquia com os fiéis, a transparência na prestação de contas, a comunicação pastoral, a qualificação dos funcionários, os grupos e pastorais, os ministros extraordinários, a resposta às demandas dos paroquianos, a imagem da paróquia na sociedade e os recursos (instalações, equipamentos, marcas e projetos). Nestes aspectos, estão concentradas as principais forças e necessidades de melhoria da instituição. Estes pontos precisam ser trabalhados, a fim de que a paróquia melhore o seu desempenho administrativo-pastoral, e conquiste os resultados almejados.

A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA PAROQUIAL

A administração paroquial compreende o planejamento da instituição e a coordenação dos fiéis, em vista da pastoral. Ela existe em função da pastoral, e, é influenciada pelo macro e microambiente da instituição. É preciso, contudo, administrar esta complexidade, estabelecendo uma eficaz adequação entre a paróquia, o ambiente paroquial, os seus recursos e os fiéis, em vista do seu plano pastoral e administrativo. Encontrar este ajuste garantirá a assistência dos fiéis, a eficácia e o crescimento pastoral, a saúde financeira da paróquia e o cuidado com o patrimônio.   Algumas perguntas podem ajudar a desenvolver a sua estratégia:

1ª. como o macroambiente afeta a paróquia?

2ª. A paróquia consegue influenciar algum dos fatores macroambientais?

3ª. De que recursos a paróquia precisa dispor para responder à realidade circundante?

Ouvimos falar, nos últimos documentos da Igreja no Brasil e da América Latina, acerca de dois sistemas pastorais: a pastoral sacramental e a pastoral orgânica. E, que, é preciso deixar um para adotar o outro. Tenhamos em conta que, cada modelo pastoral pressupõe uma estrutura administrativa.

Na pastoral sacramental, a vida da paróquia marca os principais momentos da vida do indivíduo conduzindo-o de não-cristão à batizado, de solteiro à casado e de vivo à morto. A vida pastoral é setorizada, segundo os sacramentos e ciclos pré-estabelecidos, catequese para a iniciação cristã, festa de padroeiro, atendimento do padre na secretaria, visita aos enfermos, etc. As metas pastorais dos fiéis e grupos são pré-definidas pelo pároco. Pelo fato de existirem poucas mudanças no ambiente externo e o cenário ser previsível, as atividades podem ser planejadas com bastante antecedência.  Para a pastoral sacramental, uma secretaria paroquial com, apenas, um auxiliar administrativo para informações gerais, organizar a agenda do padre, e receber o dízimo é suficiente. O modelo pastoral sacramental exige uma estrutura administrativa simples e operacional

DEFINIÇÕES ESTRATÉGICAS

Caso a paróquia esteja em um ambiente em transformações ou turbulento, é necessário que seja colocada em prática uma pastoral orgânica. Neste modelo, os fiéis e os grupos trabalham em conjunto, são proativos e dependem menos de cobranças do pároco para funcionar. Na proposta orgânica, as tarefas pastorais têm de ser redefinas constantemente para estar de acordo às necessidades do mutante macroambiente paroquial. Os problemas precisam ser abordados por diferentes frentes pastorais, respondidos de forma integral e criativa. Os fiéis devem cultivar o empreendedorismo pastoral, estar em constante processo de comunicação, favorecendo a unidade (não uniformidade) paroquial e a comunhão eclesial.

As necessidades da pastoral orgânica é que determinarão a estrutura, as ações e as estratégias administrativas de uma paróquia. É óbvio que a proposta de uma pastoral orgânica pede uma estrutura que complemente o tradicional formato de secretaria paroquial ou até mesmo que o ultrapasse. Os atendimentos podem ser divididos em pastoral, administrativo e social, com atribuições bem definidas. Pode haver a necessidade de, dentro do atendimento pastoral, se criar um atendimento exclusivo para o dízimo, em virtude da quantidade de dizimistas ou haver a necessidade de criar um atendimento para outra pastoral ou serviço que seja o carro-chefe da paróquia.

Esta modalidade de pastoral orgânica pode vir a suscitar estruturas ainda mais inovadoras, como a que propomos na edição 43, desta revista, julho-agosto 2013. Nesta edição, propomos que a paróquia fosse entendida, a partir de novas centralidades, chamadas de Centralidades de Irradiação Pastoral. Nestas centralidades podem existir secretarias paroquiais com autonomia pastoral limitada, podendo oferecer alguns serviços. Observe-se que já o documento de estudo da CNBB (n. 104 p. 75), nos recomenda que “é possível descentralizar o atendimento pastoral, mesmo que não seja fácil ‘passar de uma estrutura centralizada num único prédio, onde acontecem todas as atividades, a uma paróquia comunidade de comunidades” (…).

Em suma, a eficácia da estrutura administrativa paroquial depende do correto “ajustamento” entre a paróquia, o ambiente paroquial, os seus recursos e os fiéis. Não existe, portanto, uma fórmula ou modelo predefinido de organização administrativa, mas um ambiente e complexidade paroquial que precisam ser compreendidos e, para os quais, precisam ser oferecidas respostas.    

Pe. Danilo Pinto cursa MBA Internacional em Gestão Empresarial (Ruy Barbosa – DeVry Brasil), coordena a Pastoral Universitária, e atua como administrador da Paróquia Sagrada Família (Arquidiocese de São Salvador da Bahia).Leciona e coordena o Núcleo de Pastoral da Universidade Católica do Salvador. Pesquisa História da Igreja no Brasil, e é autor dos livros “Dom Avelar: Um Bispo do Brasil Nordeste” (Edições CNBB) e “Pouso dos Cristãos: Uma Freguesia na Bahia Colonial” (Editora Vento Leste).

Blog: www.danilopinto.wordpress.com

Contato: pedanilopinto@yahoo.com.br

Gestão Eclesial – Novas Experiências Administrativas

Aprenda novas ferramentas de organização para dinamizar a administração paroquial

ImagemTodo pastor atento percebe a inconformidade da vida dos paroquianos com a disponibilidade dos serviços oferecidos pela paróquia (grande maioria): são horários de atendimento inadequados às pessoas, secretarias distanciadas das comunidades, ausência de estruturas que favoreçam a comunhão eclesial, etc. Foi em virtude destes e de outros aspectos, que, a 51ª Assembleia Geral da CNBB teve por principal tema “Comunidades de Comunidades: uma nova paróquia”.

Não temos, aqui, espaço suficiente para apresentar os caminhos históricos que a instituição paróquia percorreu até o presente. Mas, podemos constatar com facilidade que a maior parte das paróquias possui estruturas que não mais respondem à dinâmica da vida das pessoas e dos espaços urbanos, que sofrem com um crescimento desorganizado, a concentração excessiva de gente e com dificuldades de mobilidade urbana. Não perceber é cultivar uma espécie de miopia pastoral. Talvez por isto, sejamos advertidos pelas atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE) ao nos dizerem que “quando a realidade se transforma, devem, igualmente, se transformar os caminhos pelos quais passa a ação evangelizadora” (p. 31).

O Documento de Aparecida é claro: “a renovação da paróquia exige atitudes novas dos párocos e dos sacerdotes que estão a serviço dela” (p. 201). E, não nos enganemos, em se falando da paróquia, a mudança de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária (n.370) passa, também, pela coragem de mudar as suas estruturas administrativas. Por conta disto, apresentamos duas ferramentas de organização administrativa paroquial, uma voltada para as comunidades e outra às pastorais, a saber, a descentralização do atendimento da secretaria, concebendo a paróquia a partir de novas centralidades[1] e a segunda, uma estrutura de trabalho colaborativo entre os grupos, denominada de “coworking pastoral[2].

 

NOVAS CENTRALIDADES PAROQUIAIS

Como é sabido, a secretaria não pode ser entendida, apenas, como um lugar burocrático da vida da paróquia. A secretaria paroquial é um lugar de vivência da fé, animação pastoral e fomento das relações dentro da comunidade cristã. Para uma melhor compreensão, podemos fazer uma distinção do trabalho da secretaria em atendimento administrativo (funcionários, finanças, patrimônio, etc) e atendimento pastoral (acolhida, informações gerais, sacramentos, etc). Poderíamos ainda pensar outras distinções, mas por hora, nos limitaremos a estes dois aspectos. Tanto para uma quanto para outra dimensão, aquele que ocupa a função de secretário(a) nunca deverá se limitar à operacionalização de um escritório, mas aproveitar deste lugar privilegiado para anunciar o Cristo, promover as atividades da paróquia, ajudar as pessoas a dar passos mais concretos na vida cristã e fomentar a comunhão eclesial.

Embora seja fundamental para o entendimento da proposta, isto não torna a secretaria mais eficaz nas paróquias que reúnem diversos bairros em sua circunscrição. Por conta disso, propomos que a estrutura paroquial seja entendida a partir de novas centralidades e que nestas novas centralidades, existam secretarias paroquiais com autonomia limitada, além do centro administrativo financeiro, que normalmente, situa-se na comunidade matriz. De modo que, a partir destas estruturas consigamos criar lugares de animação pastoral e missão permanentes, e aproximar os serviços dos nossos fiéis.

As secretarias paroquiais com autonomia limitada, instaladas em pontos estratégicos, poderão permitir a condução de processos matrimoniais, agendamento dos sacramentos e intenções, transferência de batismo e outros sacramentos, informações gerais, despacho de certidões, curso de pais e padrinhos, suporte para a evangelização e formação, atendimento do padre, expansão do trabalho social da paróquia e recebimento do dízimo. Enfim, a disponibilidade desta ferramenta pode transformar a paróquia, comunidade de comunidades, em um lugar de missão permanente, a partir destas unidades de atendimento e funcionários qualificados.

 

COWORKING PASTORAL

O segundo ponto a que nos propomos, convida à criação de uma estrutura administrativa que favoreça um trabalho colaborativo entre os nossos grupos[3]. Para tanto, reunimos o conceito empresarial de coworking aos esforços de realização do Reino de Deus nas realidades específicas, a que chamamos pastorais.

Mas, o que significa este termo? O coworking significa trabalho colaborativo, e surgiu nos Estados Unidos, em 2005, quando o engenheiro Brad Neuberg resolveu montar uma comunidade de trabalho com os seus amigos (Você S\A, 2011, p. 39). Dessa iniciativa, surgiu um escritório compartilhado que minimizava gastos, livrava do isolamento e possibilitava a troca de informações. Segundo Castro Alves, fundador da Comunidade Coworking Brasil “o coworking é mais informal, mais focado no conceito de comunidade, com pessoas trabalhando em conjunto, se ajudando” (A TARDE, 2011, p. 5).

O coworking pastoral é a proposta de um ambiente de trabalho eclesial. Constitui um espaço físico que recolhe os esforços empregados na construção do Reino, em suas realidades mais particulares (juventude, pessoa idosa, família, etc). Esta proposta necessita de um espaço físico com estações de trabalho, computadores, armários para cada grupo e horários de trabalho comum que fomentem o encontro dos agentes de pastoral. Com isso, a paróquia possibilitará que cada pastoral tenha o seu “escritório” em um ambiente colaborativo, um espaço de comunhão eclesial. Além de oferecer uma estrutura administrativa para o planejamento de cada grupo, o coworking pastoral pode favorecer, neste mesmo espaço físico, a socialização das ações, provocando o surgimento de atividades pastorais compartilhadas.

O coworking pastoral pode ainda trazer outros benefícios:

  1. A inclusão dos agentes de pastoral nos diversos meios de comunicação;
  2. A diminuição dos gastos pessoais dos colaboradores;
  3. Sala de reunião para a realização dos trabalhos;
  4. A integração das diversas pastorais, em uma troca de experiências entre as realidades paroquiais.

 

CONCLUSÃO

Em suma, é preciso que as paróquias se adequem às novas formas de organização da cidade e tornem a sua presença mais qualificada na vida dos fiéis, mesmo que seja preciso “abandonar as estruturas obsoletas, que não favorecem a transmissão da fé” (DAp, 365). De modo que, instalar um coworking pastoral e suscitar novas centralidades de irradiação pastoral, a partir de secretarias com autonomia limitada, são formas de aumentar a presença da Igreja nos lugares de maior população e necessidade, bem como, amenizar a urgência da criação de novas paróquias, enquanto não possuímos estruturas e sacerdotes suficientes.

 

Pe. Danilo Pinto cursa MBA em Gestão Empresarial, e atua como administrador da Paróquia Sagrada Família (Arquidiocese de Salvador). Leciona e compõe o Núcleo de Pastoral da Universidade Católica do Salvador. Pesquisa História da Igreja no Brasil, e é autor dos livros “Dom Avelar: Um Bispo do Brasil Nordeste” (Edições CNBB) e “Pouso dos Cristãos: Uma Freguesia na Bahia Colonial” (Editora Vento Leste).

Blog: www.danilopinto.wordpress.com

Contato: pedanilopinto@yahoo.com.br


[1] Este projeto está em fase de implantação na Paróquia Sagrada Família, da Arquidiocese Primaz de São Salvador, da qual este autor é Administrador Paroquial.

[2] Esta proposta foi elaborada por este autor para a PASCOM da mesma arquidiocese e, aqui, adaptado à estrutura paroquial.

[3] Tomamos as pastorais como exemplo.

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Gestão Eclesial – Entenda como é a gestão de processos em sua instituição

Edição 41 – Março | Abril 2013

Edição 41 – Março | Abril 2013

Toda gestão implica em coordenar processos. Mas, processos, que processos?  Todo processo é um conjunto de ações que possibilita o alcance de um resultado. Por sua vez, a gestão de processos é a coordenação dos procedimentos que encaminham as ações para determinado fim. Contudo, é preciso chamar atenção para um aspecto, e, é preciso dizê-lo, imediatamente: o fato de existirem procedimentos para a realização de um projeto, não quer dizer que eles sejam coordenados para uma finalidade.

Constantemente, gestores dos mais diversos empreendimentos pastorais se deparam com a baixa produtividade e a pouca eficácia dos seus colaboradores, com o não cumprimento das metas estabelecidas, o prevalecimento de interesses pessoais em detrimento da missão da organização religiosa, a falta de flexibilidade para as mudanças que as necessidades exigem, as tomadas de decisão distanciadas dos valores da instituição e a falta de sustentabilidade dos projetos. Aceite-se ou não, todos esses aspectos são sinais da ausência de gestão de processos. Entretanto, quais as vantagens em adotar esse modelo de gestão para as organizações religiosas? E, tomando esta decisão, como mobilizar pessoas dentro deste estilo de governança?

Montando Estratégias

Para desenvolver a habilidade de coordenar procedimentos é preciso, antes e primeiramente, ter diante de si a missão e a visão da instituição, uma vez que essas dimensões irão orientar os processos organizacionais. São a missão e a visão da instituição que oferecerão a metodologia e a perspectiva das estratégias necessárias para alcançar com mais facilidade os resultados esperados. Sendo assim, é preciso identificar e analisar os procedimentos montados para cumprir o planejado, desenhando uma espécie de mapa de trabalho.

Sintetizado o processo, é preciso elaborar mecanismos de feedback, a fim de que sejam detectados os desvios inesperados, faça-se a correção de rumo, e, caso necessário, mude-se o processo para obter o resultado almejado. Postura que torna o trabalho constantemente adaptativo. Ainda assim, é indispensável que existam formas de medir o desempenho dos colaboradores do projeto e avaliá-lo, sempre.

Ferramenta importante é a utilização de tecnologias para o acompanhamento dos procedimentos.  Um administrador paroquial que possui muitas atribuições, por exemplo, pode acompanhar o andamento dos trabalhos, na secretaria paroquial, por meio dos atuais sistemas de computação de nuvem (Dropbox, Google Drive e ICloud), que lhe permitem acessar as informações de casa, outra estação de trabalho ou ocasiões de viagens. Os sistemas de computação de nuvem, além de permitir acompanhar a modificação dos processos em tempo real e de diferentes lugares, possibilitam uma verdadeira convergência da inteligência, a partir dos quais um documento pode ser trabalhado simultaneamente pelo administrador, seu secretário paroquial e outros colaboradores.

Pessoas Mobilizadas

Gestão de procedimentos adotada, é preciso mobilizar as pessoas dentro de outra lógica de trabalho. Para tanto, faz-se necessário criar uma atmosfera que difunda a cultura ou o carisma da instituição. De modo que, o ambiente deve ser formado de posturas, orientações práticas, organização do espaço físico e formativo da instituição, como por exemplo, a elaboração de um Guia Pedagógico para as Casas Religiosas de Formação ou Instituições de Ensino. Note-se que tal contexto irá favorecer o alcance de resultados, na perspectiva da missão e dos valores da instituição.

O gestor de processos deve ter um olhar atencioso e pedagógico a respeito das pessoas com quem se trabalha. Falo isso, porque toda pessoa é resultado de uma soma histórica de experiências de vida e de trabalho que podem contribuir ou não no desempenho da sua função.  Um olhar pedagógico permitirá identificar pontos fortes dos colaboradores e ativá-los em vista da razão de ser (missão) da instituição religiosa.

É imprescindível incluir os envolvidos em todas ou alguma etapa de planejamento e socializar as informações do projeto. Envolver os colaboradores na construção da proposta torna-os co-responsáveis pelo trabalho e processo de execução. Além de compartilhar a responsabilidade, essa atitude favorecerá um aumento da estima e da produtividade da equipe de trabalho. Fosse pouco, será possível perceber, em longo prazo, um compromisso com o destino da instituição religiosa.

A Bússola do Gestor

É do gestor eclesial o papel de governança da organização religiosa, e deve, ele, orquestrar a coordenação dos processos. Mas, não devemos esquecer que a coordenação dos processos e a liderança de pessoas, dentro dos valores do Reino, por sua vez, é o que constitui a natureza de toda e qualquer gestão eclesial. Subtrair-se destes princípios é negar a natureza eclesial da instituição.

Pois bem, este trabalho pede do gestor um conhecimento abrangente de todas as etapas do processo, bem como uma atenção aos efeitos do cenário sobre os projetos da instituição. O gestor religioso, ou a quem ele atribui essa responsabilidade, é o responsável principal pela definição dos papéis e das responsabilidades envolvidas, escolhendo ferramentas, adotando métodos e elaborando estratégias que possam desenovelar e integrar os processos. Ter diante de si a razão de ser e o que é esperado da instituição religiosa no futuro é ter o norte de uma bússola, na gestão de processos.

Em suma, gerir procedimentos não significa, apenas, identificá-los, mas planejar com as pessoas, direcioná-las e acompanhá-las na execução, de forma permanente, em busca de um objetivo. Modalidade de trabalho que lhe possibilitará, caro gestor, corrigir a direção antes de apresentarem-se os resultados. Se bem conduzidos, os processos conseguirão agregar valor à imagem da instituição, bem como, garantir a sua manutenção e o cumprimento da sua proposta ao longo dos anos.

Danilo Pinto, Pe.

Texto publicado na Revista Paróquias e Casas Religiosas, ed. 41, março / abril 2013

Um Plano de Emergência

CNBBA carta consulta dos temas que deveriam ser discutidos no Concílio, enviada pelo Cardeal Domenico Tardini, conseguiu levantar 8.972 proposições. A fase preparatória ocupou-se de transformar estas proposições em esquemas de trabalho, preparar as diretrizes e a infraestrutura para a realização do Concílio. Ao fim desta etapa, estavam organizados setenta esquemas para o trabalho dos peritos, consultores e padres conciliares.

Para que este resultado fosse alcançado foram constituídas dez comissões, nove delas correspondentes aos dicastérios da Cúria Romana e uma comissão coordenadora de todo processo. Os responsáveis pelas congregações romanas passaram também a presidir as comissões espelhadas. Ao todo, 846 pessoas trabalharam na fase preparatória do Concílio. Segundo Oscar Beozzo, deste total de envolvidos, apenas, dez eram brasileiros. Único que desempenhava um trabalho no Nordeste, entre os brasileiros que contribuíram nesta fase, foi Dom José Vicente Távora, que se encontrava em Aracaju (SE) e participou do Secretariado da Imprensa e do Espetáculo.

Em tempo simultâneo ao da estruturação do Concílio, aumentava na Igreja o interesse por estudos e reflexões que pudessem preparar os participantes para a histórica ocasião. Junto a isto, uma solicitação do papa João XXIII feita, em dezembro de 1961, aos episcopados latino-americanos fez com que a Igreja no Brasil se preparasse melhor para o Vaticano II. O bispo de Roma solicitou, por meio de carta ao CELAM, que as conferências episcopais pudessem elaborar planos pastorais que atendessem às necessidades especiais da Igreja no continente. Em virtude disto, a Igreja no Brasil elaborou um projeto chamado Plano de Emergência (PE). O PE, que constituiu o primeiro momento de um programa pastoral coordenado, nacionalmente, definiu os seis primeiros regionais da CNBB, e fez com que os bispos pudessem se apropriar melhor da situação eclesial e social do país, às vésperas do concílio.

Este momento de preparação da Igreja para o Concílio Vaticano II tomou cerca de dois anos. A participação dos bispos brasileiros nesta fase do concílio foi muito modesta, como a dos outros bispos não europeus. No Brasil, a solicitação do papa fez com que pudéssemos nos organizar melhor para as adventícias indicações conciliares. No Natal de 1961, estava convocado o Concílio, pelo papa João XXIII, para o ano seguinte.

Série 50 anos do Concílio Vaticano II. Texto publicado no Jornal São Salvador: Julho de 2012.

Capa do livro Dom Avelar Brandão Vilela: Um Bispo do Brasil Nordeste

Dom Avelar Brandão Vilela: Um bispo do Brasil NordesteMeus amigos, já se encontra à venda, no site das edições CNBB, meu novo livro escrito, em parceria, com o meu amigo Pe. Adriano Portela. O livro “Dom Avelar: Um Bispo do Brasil Nordeste”, resultado de um período intenso de pesquisa em várias cidades do Nordeste por onde passou o cardeal, é publicado pela editora da CNBB e Universidade Católica do Salvador. Este livro abre a série “Testemunhos”, cujo objetivo é desenvolver estudos acerca de pessoas que contribuíram com a História da Igreja no Brasil. Para a nossa Igreja Particular, a Arquidiocese de Salvador, este trabalho acrescenta aos outros já produzidos durante o Centenário do nosso querido Cardeal Dom Avelar. Brevemente, anunciaremos a data de lançamento.

Sinopse: O presente livro relata a vida e a atuação de Dom Avelar Brandão Vilela no Nordeste. Nesta obra, podemos conhecer a sua personalidade forte e a sua sensibilidade para questões sociais e políticas, que o tornou um líder importante da Igreja Católica no Brasil e uma referência significativa na América Latina.


São João de Ávila: Um novo Doutor para a Igreja

A Conferência Episcopal Espanhola, produziu um vídeo que mostra os traços principais do presbítero, padroeiro do clero diocesano espanhol, que será proclamado doutor universal da Igreja, no dia 07 de outubro de 2012.

Perscrutando Sinais

Alguns meses após o anúncio do Papa João XXIII, o Cardeal da Silva, Dom Eugênio Sales e Dom Avelar, entre outros, receberam uma carta do Cardeal Domenico Tardini solicitando assuntos que pudessem ser discutidos no Concílio. “Peço, portanto, vivamente, a Vossa Excelência que queira fazer chegar a esta Comissão Pontifícia (…) pareceres, conselhos e vota, que a solicitude pastoral e o zelo das almas, possam sugerir à Vossa Excelência em ordem às matérias e aos temas que poderão ser discutidos no próximo Concílio”, requisitou a carta.

O Papa João XXIII criou uma Comissão Antepreparatória, capitaneada pelo Secretário de Estado Tardini, para que fossem levantados os assuntos que deveriam compor a pauta conciliar. Dos 167 bispos brasileiros consultados, 132 enviaram resposta. Estes pareceres foram apresentados individualmente ou como voto de toda província eclesiástica, alguns elaborados, inclusive, com a assessoria de teólogos e canonistas. Muitos bispos aproveitaram a oportunidade para manifestar insatisfações da prática pastoral, mostrando o quanto o prescrito, do ponto de vista canônico, distanciava-se da vida dos fiéis.

No que diz respeito aos bispos do Nordeste, as indicações para o Concílio envolviam a responsabilidade eclesial na promoção dos povos subdesenvolvidos, questões doutrinais e o diálogo ecumênico e inter-religioso.  Dentre as sugestões, Dom Avelar, de quem celebramos o centenário, evidenciou o problema da evangelização em confronto com as religiões não-cristãs e com os cristãos não-católicos. Único do Nordeste a aproximar-se desta questão, o, então, arcebispo de Teresina não o fez em defesa da fé católica como os outros cinco brasileiros que tocaram no tema, mas de forma dialogal. Observe-se que, o prisma desta consideração de Dom Avelar será refratado na aproximação respeitosa que revelou a declaração Nostra Aetate e o decreto Unitatis Redintegratio, futuros documentos conciliares.

A Fase Antepreparatória legou, às etapas posteriores, 8.972 proposições que deveriam ser sintetizadas em tempo breve. É inegável que o material levantado constitui um verdadeiro retrato das inquietações da Igreja presente no mundo às vésperas do Concílio. Revisitar estas consultas, à luz dos temas que questionam atualmente a nossa inteligência e criatividade, pode nos apresentar caminhos que ainda não puderam ser percorridos pastoralmente.

 Série 50 anos do Concílio Vaticano II. Texto publicado no Jornal São Salvador: Junho de 2012.

 

 

Entre Perplexidades e Incertezas

Basílica de São Pedro

“Venerados irmãos e filhos amados! Pronuncio perante vós, decerto tremendo um pouco de comoção, mas, com humilde resolução de propósito, o nome e a proposta de uma dupla celebração: um Sínodo diocesano para Roma e um concílio ecumênico para a Igreja universal”. Com estas palavras, o Papa João XXIII anunciou o Concílio Vaticano II, no dia 25 de janeiro de 1959, aos cardeais residentes em Roma, que estavam reunidos num mosteiro beneditino, nas proximidades da basílica de São Paulo Além dos Muros. 

A notícia que surpreendeu o mundo cristão foi apresentada, na emissora de Rádio Vaticano, antes do papa comunica-la aos cardeais, em virtude de um imprevisto no tempo da missa, acontecida mais cedo na basílica de São Paulo. Tenha-se em conta que, o anúncio conciliar e o Sínodo para a diocese de Roma foram, ainda, seguidos de uma terceira proposta: a atualização do Código de Direito Canônico de 1917. Segundo o Papa João XXIII, na mesma alocução, foram estes “os pontos luminosos de atividade apostólica que esses três meses de presença e contato com o ambiente de Roma sugeriram”.

De modo geral, a Igreja e a opinião pública mundial foram tomadas, como algo que é dado a um só golpe e de uma vez por todas, de perplexidade e incerteza quanto ao que havia sido divulgado. Dois anos adiante, o Papa João XXIII recordou que os dezessete cardeais presentes na ocasião reagiram “com impressionante e devoto silêncio”. O restante do colégio cardinalício foi contatado pelo Secretário de Estado, o Cardeal Domenico Tardini. Destes, menos de um terço dos cardeais emitiram resposta sobre a novidade do concílio. Os que apresentaram retorno à carta ofereceram as suas orações e manifestaram os seus préstimos diante do anúncio conciliar. Da Igreja do Brasil, foi encontrada, apenas, entre os documentos pontifícios, a resposta do Cardeal Jaime de Barros Câmara, arcebispo do Rio de Janeiro, para o qual esta notícia “abriu um raio de esperança em dias melhores para a cristandade”.

Em suma, a notícia de um concílio ecumênico, ainda sem o nome, foi recebida com certa hesitação pela imprensa e pelos diversos setores eclesiais. Na história da Igreja, estava anunciado aquele que se tornou uma dos maiores episódios eclesiais já acontecidos, pela confluência espiritual e numérica dos seus participantes.

Série 50 anos do Concílio Vaticano II. Texto publicado no Jornal São Salvador: Maio de 2012.

 

A Bússola Dourada

A Bússola Dourada

Os nomes de Dom Augusto Álvaro da Silva, Dom Eugênio de Araújo Sales e Dom Avelar Brandão Vilela gravados nas colunas de acesso ao adro da basílica de São Pedro tornam familiar aos católicos da Arquidiocese de São Salvador esta obra prima da arquitetura. O registro dos capitulares da Sé Primacial do Brasil nas colunas da basílica de São Pedro deve-se à sua participação no acontecimento eclesial mais extraordinário do século XX, o ecumênico Concílio Vaticano II. Esse episódio inaugurado na história da Igreja pelo papa João XXIII, no dia 11de outubro de 1962, nos tomará nas linhas e edições seguintes.

Para início de conversa, os concílios são reuniões dos bispos, convocadas pelo bispo de Roma e presididas por ele, com o objetivo de definir assuntos de fé, de moral e de doutrina da Igreja. Recordemos que, até o Vaticano II, aconteceram vinte concílios em toda história, sendo o homônimo Vaticano I (1869 – 70) e o Concílio de Trento (1545 – 63) os dois últimos. O vigésimo primeiro concílio, que aconteceu entre os anos de 1962- 65, alongou-se por dois governos pontifícios, a tomar conhecimento, dos Papas João XXIII e Paulo VI.

É conveniente explicar, e é preciso fazê-lo imediatamente, que o caráter ecumênico do concílio não se aplica a um envolvimento direto das outras religiões cristãs no seu desenvolvimento, mas à participação da Igreja presente em todo o orbe numa assembleia única e universal. Neste sentido, o Concílio Vaticano II contou, em sua abertura, com a presença de mais de dois mil e quinhentos bispos dos cinco continentes, além dos superiores gerais das congregações religiosas, de vinte e oito representantes de Igrejas cristãs e de algumas personalidades do mundo leigo.

Outro aspecto, ainda, fez deste concílio peculiar. O Vaticano II não se preocupou com a definição de novos dogmas, nem com uma reforma da Igreja, mas com uma atualização pastoral e eclesial. Em virtude desta perspectiva, e, apenas por ela, essa postura conciliar conseguiu lançar novos fachos de luz no átrio multissecular da Igreja. Tratava, na verdade, de um desejo de fazer a Igreja encontrar um caminho na compreensão do mundo Moderno, como também o seu contrário. Tanto que, nos disse o papa João Paulo II na entrada do terceiro milênio: “sinto (…) o dever de indicar o Concílio como a grande graça que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa” (Novo Millennio Ineunte, n.57).

Pois bem, neste arco de tempo dourado (2012 – 2015), em que celebramos o jubileu do Vaticano II, refletiremos alguns episódios conciliares, entre eles, o seu anúncio e convocação, a participação do episcopado brasileiro no seu desenvolvimento, as Conferências de Domus Marie e a compreensão que a Igreja adquiriu de si e do mundo com quem se relaciona, a partir deste momento. Quanto aos antigos pastores da Igreja da Bahia que tiveram a sua memória perpetuada nas colunas da basílica de São Pedro, doravante, nos acompanharão como os padres conciliares do Vaticano II, nas próximas edições do Jornal São Salvador.

Série 50 anos do Concílio Vaticano II. Texto publicado no Jornal São Salvador: Abril de 2012.


 

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Trecho do livro “Pouso dos Cristãos”

A criação da freguesia de São Sebastião dá-se numa específica conjuntura eclesial: a este tempo, a Igreja do Brasil encontrava-se submetida aos Direitos de Padroado, regime durante o qual esteve oficializada a união da Igreja com a Coroa de Portugal. E damos, aqui, relevo a esse acordo, posto ser imprescindível à compreensão da história precedente à criação da freguesia e às relações que a Igreja continuará constituindo com o Estado da criação da paróquia em diante, por mais dois séculos, quase.

O termo padroado tem a sua gênese na palavra latina patronus (FERREIRA, 2000, p.353) e pode ser traduzido por advogado, defensor ou protetor. As traduções que recebem o termo patronus iluminam a compreensão das concessões administrativas feitas pelo Papa ao Rei de Portugal, de certo grau de controle sobre uma Igreja local. No contexto em que se insere, esse termo evoca a idéia de “padroeiros terrestres” [1], inspirando e servindo de modelo a este direito.

Tendo isso em conta, e admitindo atrás de si uma história que envolve relações com as Ordens Religiosas Militares[2], no ano de 1551, foi instituído o regime que conferiu somente aos reis de Portugal, a partir dessa data, unirem às prerrogativas dos direitos políticos que possuíam, as funções do grão-mestrado das ordens religiosas militares. De modo que, o Direito de Padroado concedido pelo papa Júlio III estendeu aos monarcas portugueses o exercício, além do governo civil, da administração religiosa nas colônias sob sua jurisdição. A partir disso, constituiu uma obrigação do rei de Portugal a responsabilidade de instalar a Igreja e propagar a mensagem cristã nos domínios ultramarinos.

Nestas condições de “Governador e Perpétuo administrador”, se encontrava “El – rey”, D. João V (1707 – 1750), do “Mestrado e da Cavallaria e Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo”, quando ordenou que  “Das Freguesias de N. Sra. do Monte [do Recôncavo], e de N. Sra. da Encarnação de Passe Cabeceiras, da de N. Sra. do Socorro se desmembre e se crie outra Freguesia”. Essa paróquia, que recebeu o nome de São Sebastião das Cabeceiras do Passé, foi confirmada no governo pastoral de D. Sebastião Monteiro da Vide, na sua competência. E teve o seu espaço eclesiástico concebido a partir dos territórios atuais de Encarnação de Passé, que constituiu a sua maior parte, do Monte e de Mataripe, ambos distritos de São Francisco do Conde.

(…) 

O panorama mais antigo da Freguesia de São Sebastião, à época aproximada de sua criação, seguramente encontrado pelo Pe. Gaspar de Souza, nos é mostrado por uma situação de desagrado, quando “os habitantes de Nossa Senhora do Passé queixaram-se ao perder um distrito contendo cinco engenhos e 2500 almas devido à criação da nova paróquia de São Sebastião [das Cabeceiras] do Passé, em1729”(SCHWARTZ, 1995, p.81). Não se passarão trinta anos deste informe, quando o Vigário colado Felipe Barbosa da Cunha, em 1757, enviou à Coroa de Portugal a notícia de que possuía a freguesia 410 fogos e 2640 almas (ACCIOLI; AMARAL, 1937, p. 404). Entenda-se a palavra “fogos” à semelhança de fogão, indicador, portanto, das unidades familiares, as casas.

Em 1759, um novo censo nos aparece. Este, feito por José Antônio Caldas, nos dá a notícia de 2500 habitantes (CALDAS, 1951, p.66-67), “na qual não entram os menores de sete anos, nem os pagãos” (idem, p. 70), distribuídos à beira dos caminhos mais antigos, nos oito engenhos e sessenta e dois sítios que faziam parte da freguesia de São Sebastião, registrados pelo Vigário Felipe Barbosa, dois anos antes. Prestemos, aqui, atenção a um detalhe curioso: é sabido que não são um e mesmo os olhares do Vigário Felipe Barbosa e do engenheiro militar Antônio Caldas. O Vigário Felipe Barbosa considera como almas tanto os não batizados quanto as crianças que ainda não atingiram a idade da razão, sete anos, enquanto o Cap. Antônio Caldas contemplou apenas a população economicamente ativa e disponível militarmente, em seu censo feito dois anos depois. Disso depreende-se que a freguesia, em meados do Dezoito, contava com 140 crianças e não batizados.

Às portas do Oitocentos, a paróquia São Sebastião sofre a primeira transformação em sua geografia eclesiástica e o número dos cristãos reunidos diminui consideravelmente.  No ano de 1799, durante a transição de pastoreio do Pe. Manoel José Ribeiro para o do Pe. José Joaquim da Rocha, contávamos com a quantidade de 240 fogos e o diminuído número de 1956 almas, registra Vilhena (1969), (Livro de Batismo, 1785-1815, pp.60-195). Uma redução ainda mais acentuada no número de moradores devido ao desmembramento sofrido com a criação da freguesia de Sant’Anna do Catu, em 1787.

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